UNIVERSIDADE DA MADEIRA

GRUPO DE ASTRONOMIA


Observação do mês

Nº 1 - Janeiro 2002


ORION

Durante o mês de Janeiro a  constelação de Orion aparece do lado Nascente logo ao cair da noite. É facilmente identificável pelo alinhamento das 3 estrelas que formam a chamada Cintura de Orion. Qualquer observador minimamente atento já as viu com certeza. Na figura seguinte estas 3 estrelas estão marcadas a verde. As outras estrelas que nos ajudam a identificar Orion são as 4 marcadas a amarelo.

Vamos começar por centrar a nossa atenção nessas 7 estrelas, que voltamos a representar na figura seguinte, mas desta vez já etiquetadas com a respectiva letra grega que as identifica. Note-se que esta figura está deitada relativamente à anterior. É assim que deve surgir (vista da nossa latitude) a partir do lado Nascente. Com o decorrer de Janeiro deverá apresentar-se cada vez mais alto para a mesma hora da noite (devido ao movimento de translação da Terra) e ao longo de cada noite deve transitar do lado Nascente para o lado Poente (devido ao movimento de rotação da Terra).

Betelgeuse - (alfa-Ori) - Esta estrela é uma supergigante vermelha, sendo o seu diâmetro entre 300 a 400 vezes o do nosso Sol! Apresenta uma cor alaranjada. O seu brilho varia no tempo de forma aleatória: variável irregular. A magnitude aparente de Betelgeuse situa-se entre os 0.4 e 1.3. A temperatura de superfície ronda os 3000ºK. Situa-se a cerca de 300 AL (anos luz) do Sol.

Rigel - (beta-Ori) - Trata-se também de uma estrela supergigante, mas mais quente do que Betelgeuse. A sua temperatura de superfície ronda os 12000ºK, pelo que a sua cor é azul-branca. Tem uma magnitude aparente de 0.1 o que faz com que seja a estrela mais brilhante da constelação de Orion, embora esteja cerca de três vezes mais distante do que Betelgeuse.
Não se tratando de uma estrela variável, Rigel, pode ser utilizada como um padrão para controlar a variação de brilho de Betelgeuse.
Outra particularidade acerca de Rigel é o facto de tratar-se de um sistema binário. A sua companheira é uma estrela de magnitude 6.8, muito difícil de observar, não só por ser pouco brilhante, mas principalmente por ser ofuscada pelo brilho de Rigel. A observação deste binário constitui um desafio para os pequenos telescópios.

Cintura de Orion - O conjunto de três estrelas que formam o segmento saliente na zona central desta constelação é conhecido por Cintura de Orion. São estrelas de cor azul-branca que distam do sistema solar cerca de 1500 AL.

 Mintaka (delta-Ori) é uma estrela azul-branca de magnitude 2.2 com uma companheira de magnitude 7.0 facilmente visível em pequenos telescópios.

Alnilam (épsilon-Ori) de magnitude 1.7 é a estrela do meio na Cintura de Orion.

Alnitak (zeta-Ori) de magnitude 2.1 é na realidade um sistema binário. A sua companheira tem magnitude 4.2. Dada a proximidade entre os valores de magnitude, a observação deste sistema binário constitui um desafio para os pequenos telescópios.

Bellatrix (gama-Ori) é uma estrela de cor azulada de magnitude 1.6 a 400 AL do Sol

Saiph ( qui-Ori) é uma estrela de cor azulada de magnitude 2.2 a 1500 AL do Sol.

 

Nome Designação magnitude Classe Tipo Espectral Distância
(AL)
Bellatrix gama-Ori 1.6 III B2 400
Betelgeuse alfa-Ori 0.4 - 1.3 Ia M2 400
Saiph qui-Ori 2.2 Ia B0 1000
Rigel beta-Ori 0.1 Ia B8 1500
Mintaka delta-Ori 2.2 II O9 1500
Alnilam épsilon-Ori 1.7 Ia B0 1500
Alnitak zeta-Ori 2.1 Ib O9 1500

 

CLASSE
 

OB supergigantes extremamente luminosas e hipergigantes
Ia supergigantes luminosas
Ib supergigantes menos luminosas
II gigantes brilhantes
III gigantes
IV subgigantes
V sequência principal
sd sub-anãs
D anãs brancas


Tipo Espectral

W O B A F G K M R N S
                     

 

Para fixar esta sequência (aparentemente estranha) é comum recorrer-se à seguinte frase:

Wow! Oh Be A Fine Girl Kiss Me Right Now Sweetie!

Os tipos W, R, N e S totalizam apenas 1% das estrelas conhecidas, pelo que os 3 últimos agrupam-se normalmente num único grupo C. A temperatura da superfície da estrela aumenta do vermelho para o azul. Cada tipo espectral subdivide-se em 10 numerados de 0 (mais quente) a 9 (mais frio). O nosso Sol é do tipo G2.

 

Ligeiramente ao lado de Alnitak fica sigma-Ori, uma estrela azul-branca de magnitude 4.0. A observação através de binóculos deve mostrar a existência de uma companheira de magnitude 7.0. Utilizando um pequeno telescópio devem ser visíveis outras duas companheiras de magnitudes 7.0 e 10.0. Este sistema de 4 estrelas está agrupado de tal forma que mais parece um planeta com o seu cortejo de satélites.

A constelação de Orion é muito rica em variedade e quantidade de objectos astronómicos. Uma região particularmente interessante para a observação com binóculos ou pequenos telescópios (e mesmo a olho nu) é a demarcada com um rectângulo vermelho na figura anterior e que na figura seguinte aparece ampliada e rodada  90º no sentido horário.

NGC 1981-enxame aberto com cerca de 20 estrelas. A estrela de mais brilhante deste enxame tem magnitude 6.3 estando portanto além do limiar do visível a olho nu. No entanto a acção combinada das várias estrelas resulta numa magnitude de 4.2 para o enxame pelo que este é na realidade visível a olho nu.

NGC 1973-É uma espectacular nebulosa de reflexão. A sua cor azul resulta da reflexão da luz das estrelas dispersa por grãos de poeira. Apresenta também, embora em menor escala, tons avermelhados, característicos das nebulosas de emissão. Muito dificilmente será visível a olho nu. Existe no entanto um binário de estrelas (42 Ori) mergulhado nesta nebulosa perfeitamente visível a olho nu como uma estrela de magnitude 4.6.

M42 (NGC 1976)- Trata-se de uma nebulosa de emissão e reflexão. É uma região muito turbulenta composta por gás e poeiras. É facilmente visível a olho nu (magnitude aparente = 4.0). São em regiões como estas que se formam novas estrelas. Uma dessas estrelas é certamente u-Ori, uma estrela azul da sequência principal que faz parte do enxame aberto do Trapézio, um dos mais jovens que se conhecem.

M43 (NGC 1982)- Um pouco acima de M42 fica M43, outra nebulosa de emissão e reflexão mais pequena e muito menos brilhante (magnitude aparente = 9). A separar as duas nebulosas existe uma estreita faixa escura.

Todos os quatro objectos anteriores estão a cerca de 1500 AL do Sol e fazem parte de um complexo de nebulosas e enxames de estrelas muito mais vasto que se estende por uma área equivalente a metade da constelação de Orion.


Grupo de Astronomia da Universidade da Madeira - 2002