UNIVERSIDADE DA MADEIRA

GRUPO DE ASTRONOMIA


Sextas Astrónomicas


Sexta-feira Astronómica - 10

Data: 21-12-2007

Assunto: Marte: maior aproximação de 2007

A décima Sexta Astronómica teve lugar no dia 21 de Dezembro de 2007. Por norma um dos requisitos para que se realize uma Sexta Astronómica é a presença de pelo menos três elementos do Grupo de Astronomia. Já aconteceu por diversas vezes uma Sexta Astronómica ser adiada ou simplesmente cancelada pelo facto de apenas estarem disponíveis dois elementos. Embora desta feita também estivessem disponíveis apenas dois elementos (Laurindo e Ilídio) optamos por realizar a Sexta  Astronómica por forma a não perdermos a oportunidade de observar Marte em grande. Optamos por realizar apenas a parte observacional.

Um dos grandes objectivos da noite consistia então em efectuar algumas exposições de Marte aproveitando o facto de este estar com um diâmetro angular de aproximadamente 16" (o tamanho máximo havia sido atingido três dias antes a 18 de Dezembro). Outro fenómeno interessante para esta noite consistia na passagem da Lua perto das Plêiades (M45). Embora da Madeira apenas fosse visível a ocultação de algumas das estrelas mais externas e mais fracas do enxame não deixa de ser um evento interessante de observar. Finalmente tinhamos ainda o cometa Holmes que embora bem mais fraco (magnitude aparente 7 ou 8) ainda é visível ocupando nesta data um "balão" maior que a Lua.

No início da noite o céu estava praticamente limpo. No entanto pelas 22h30, hora combinada para o início do trabalho, constatou-se que o céu estava praticamente todo coberto de nuvens e caia mesmo um ligeiro chuvisco. Assim optamos por ir para o Laboratório de Astronomia e Instrumentação (LAI) e avançar com algum trabalho.

Instalamos o software relativo à nossa webcam no PC portátil. Era nosso objectivo fazer um adaptador para ligar a webcam à ocular. Verificamos no entanto que alguém já o tinha feito! O tempo foi aproveitado também para tirar mais algumas fotos de modo a completar a página da internet alusiva ao equipamento do Grupo de Astronomia.

Por volta das 23h30 subimos ao terraço  para verificar o estado do tempo e decidir se deveríamos ou não levar algum dos telescópios. Verificámos que o céu continuava muito nublado. Constatamos no entanto que as nuvens avançavam com alguma velocidade, tendo acabado mesmo por se verificar uma aberta em torno da região onde se encontrava Marte. Inicialmente pensamos em ir buscar o Mizar. No entanto como o céu aparentava estar mesmo a limpar optamos pelo Meade.

Uma vez montado o Meade procuramos proceder ao alinhamento do mesmo. Todavia a nebulosidade começou a aparecer de novo, avançado desde as montanhas para o litoral, cobrindo em pouco mais de 20 minutos todo o céu. A temperatura do ar rondava os 16ºC e  a humidade os 60-70% (tendo-se mantido assim durante toda a noite). Começaram a cair mesmo algumas gotas de chuva pelo que cobrimos o equipamento com a cobertura de emergência. Era claramente visível que estava mesmo a chover nas zonas mais altas de São Roque. Felizmente o vento arrastou consigo esse foco de precipitação para os lados do Monte, deixando uma aberta suficiente para tentarmos avançar com o trabalho.

Para alinhar o telescópio optamos por Canopus e Regulus. Apontamos depois para Marte. Verificamos que o alinhamento não tinha sido perfeito. No entanto com um pequeno ajuste lá apanhamos Marte. Tentamos fazer logo algumas exposições de CCD antes que as nuvens voltassem. Verificamos que mesmo com os filtros B e IR e com o tempo mínimo de exposição permitido pelo equipamento (0.12s) a imagem ficava bastante saturada. Tentamos ainda com o filtro UV mas mesmo assim a imagem continuou bastante saturada.  Durante todo este tempo a região do céu onde estava Marte ora ficava limpa ora ficava coberta de nuvens.

No fim da noite procuramos também obter imagens com a webcam. Começamos por acoplar a webcam no porta oculares do Meade. Não obtivemos qualquer imagem. Acabamos então por verificar que acoplando a webcam à ocular de 40mm conseguíamos apanhar Marte (embora com alguns problemas pois a acoplagem não era tão estável quanto o desejável). Tentamos também com a ocular de 6mm mas sem sucesso e com uma ocular e a Barlow mas também sem sucesso.

Entretanto por volta das 3h00 o céu voltou a ficar completamente coberto. Optamos assim por terminar os trabalhos desta Sexta Astronómica. Quando voltamos à rua depois de arrumar todo o equipamento no LAI estava já  a chover.

Infelizmente não conseguimos obter muitas imagens de Marte e as obtidas ficaram bastante saturadas. Quanto aos outros dois objectivos (passagem da Lua por M45 e cometa Holmes) não foi possível obter qualquer registo. 

Planeta Marte. A exposição foi de 0.12s, com um filtro U, e com a CCD a registar uma temperatura de -14.39 ºC. A exposição está também subtraída da Dark frame feita "manualmente" através de uma livraria de Darks.

Como trabalho futuro sugerimos a construção de um ou mais Redutores de Abertura para o Meade por forma a evitar a saturação da CCD quando se observam objectos mais luminosos como foi o caso de hoje. É necessário treinar mais a obtenção de imagens com a Webcam procurando também a melhor forma de estabilizar a sua acoplagem aos telescópios. 

Para terminar, e já que falamos no tamanho de Marte, gostaríamos de esclarecer aqui uma mensagem completamente falsa que circulou pela internet (em emails e sites) dando conta que no dia 27 de Agosto de 2007 Marte estaria tão grande quanto a Lua Cheia o que faria com que a Terra parecesse ter duas luas. Ora, isto é um autêntico disparate como se pode constatar pelo exposto no quadro seguinte:


O "tamanho" aparente da Lua, Sol e planetas (isto é o tamanho como os vemos no céu) normalmente é medido em termos de diâmetro angular. Por exemplo, o raio médio da Lua é de 1737 km. A distância entre a Lua e a Terra varia entre os 363 000 km e os 406 000 km. No dia 27-08-2007 rondava os 375 000 km. Podemos então construir um triângulo rectângulo como o da figura seguinte.

A partir daqui podemos calcular o raio angular da Lua (ângulo alfa) no céu relativo a esse dia:


 
O resultado em radianos deverá ser convertido em graus e depois em segundos de arco para uma melhor leitura pois dará um diâmetro próximo dos 1900 segundos de arco! No dia 27-08-2007 Marte estava a cerca de 176 milhões de km da Terra. Sendo o raio do planeta igual a 3400km podemos calcular o seu diâmetro angular nesse dia. Fazendo as contas obtemos cerca de 8 segundos de arco, ou seja mais de 200 vezes inferior ao da Lua.

A seguir uma lista dos diâmetros angulares  (em segundos de arco) no dia  27 de Agosto de 2007 (os dados foram retirados do programa SkyMap):

Lua - 1900
Sol - 1900
Vénus - 56
Júpiter - 36
Saturno - 15
Marte - 8
Mercúrio - 5
Urano - 3.7
Neptuno - 2.3

Se Marte fosse tão grande quanto a Lua cheia então Vénus com um diâmetro angular 7 vezes superior ao de Marte seria verdadeiramente aterrador !!!!!
O mesmo aconteceria com Júpiter e até com Saturno. Não teríamos então duas mas sim CINCO Luas no dia 27 de Agosto de 2007!

A maior aproximação de Marte à Terra nos últimos tempos ocorreu  na sua oposição do dia 27-08-2003 quando a sua distância à Terra foi de apenas 55.76 milhões de km  (isso só volta a acontecer em 2287). Em 2003 o diâmetro angular de Marte rondou os 25 segundos de arco (maior do que agora mas sempre MUITO inferior ao da Lua).

 

Como este parece ser um boato recorrente (desde a oposição de Marte em 2003) optamos por deixar aqui este esclarecimento na esperança de que em eventuais aparições  futuras, os utilizadores da internet que porventura tenham acesso a este relatório fiquem esclarecidos acerca deste assunto. Lembramos também que o Grupo de Astronomia da Universidade da Madeira dispõe da secção Pergunte ao Astrónomo através da qual todos podem colocar questões.

Laurindo Sobrinho
Ilídio Andrade


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