UNIVERSIDADE DA MADEIRA

GRUPO DE ASTRONOMIA


Sextas Astrónomicas


Sexta-feira Astronómica - 2

Data: 24-11-2006

Assunto:

1) Asteróides que passam próximo da Terra
2) Focagem da CCD nos telescópios Mizar e Meade

A segunda Sexta Astronómica decorreu como previsto na noite de 24 de Novembro de 2006. Desta vez fomos cinco (eu, o Pedro, o Angelino, o Élder e o Ilídio (o nosso mais recente colaborador)). O encontro do pessoal ocorreu por volta das 20h no pátio da UMa junto ao bar dos alunos. O céu estava totalmente coberto de nuvens depois de um fim de tarde chuvoso e ventoso. Optamos por jantar no snak-bar que fica mesmo aqui ao lado da Universidade. Não havendo muitas opções de escolha no Menu acabamos por escolher o tradicional picado.

O tema proposto para discussão durante o jantar era “Asteróides que passam próximo da Terra”. A escolha deste tema foi motivada por dois aspectos. O primeiro foi o artigo que saiu na Sky & Telescope de Novembro 2006 intitulado “The most dangerous asteroid ever found”. O segundo prende-se com a possibilidade de observarmos alguns desses asteróides nomeadamente na fase de maior aproximação ao nosso planeta seguindo procedimentos análogos ao que estamos a desenvolver para a observação de Plutão.

Depois de alguma discussão sobre o asteróide Apophis que poderá constituir uma ameaça real para a Terra em 2036 (embora a probabilidade de tal acontecer seja bastante pequena) demos uma vista de olhos pela Escala de Torino que permite quantificar a ameaça posta à Terra pelos asteróides. A escala assume valores inteiros entre 0 (ameaça nula) e 10 (impacto certo com efeitos globais). Até a data apenas dois asteróides (Apophis, 2004 VD17) atingiram o valor 2 desta escala.



Simulação indicando a previsão actual para a posição do asteróide 99942 Apophis a 13 de Abril de 2036. A imagem foi obtida com o simulador da NEOP - NASA
( https://neo.jpl.nasa.gov/cgi-bin/db?name=99942 ).

Falamos também de outros asteróides que se aproximam da Terra mas que de momento não são ameaça (1036 Ganymed, Asclepius, 2004 FH). O caso de um impacto recente (em 2002) por cima do Mar Mediterrâneo ao largo da costa da Líbia. Causou surpresa ninguém ter ouvido falar do mesmo: a imprensa mundial não deu importância? É que foi mais forte do que a famosa explosão de Tunguska em 1908.

Demos uma vista de olhos na tabela de aproximações futuras do NEOP (Near Earth Observation Program) com especial atenção para as maiores aproximações. Por exemplo a 01-02-2007 o asteróide 2006AM4 irá passar a 5.2 vezes a distância da Terra à Lua. (no entanto devemos ter presente que esta tabela é actualizada diariamente com a entrada de novos elementos, alteração de dados e eventual saída de elementos)

Finalmente discutimos a forma de calcular a magnitude aparente destes asteróides verificando-se que em muitos casos estão perfeitamente ao alcance do nosso equipamento havendo mesmo casos em que o asteróide pode ser visível a olho nu. Há no entanto que ter cuidado no cálculo da magnitude aparente pois muitas vezes não se conhecem com precisão todos os parâmetros necessários (e.g. albedo, dimensão).

Para uma informação mais técnica e completa sobre este tema ver : Asteróides que passam próximo da Terra.

Depois do jantar (cerca das 22 horas) notámos que o céu encontrava-se praticamente limpo. Decidimos então tentar alinhar e focar a CCD nos dois telescópios do Grupo de Astronomia. Receando um novo agravamento das condições atmosféricas, como havia acontecido durante a tarde, optamos por trabalhar a partir do interior das instalações da UMa. Assim, montamos o equipamento junto às vidraças da escadaria no piso 2 do lado sul.

O primeiro telescópio utilizado foi o Mizar. Apontamos o telescópio, primeiro para uma lâmpada distante (aproximadamente a 300 metros) e depois para Rigel (beta Ori). Foram feitas várias exposições em ambos os casos procurando atingir a melhor focagem possível. Verificou-se que a imagem centrada no telescópio ficava também aproximadamente centrada na CCD. No Mizar a focagem foi testada fazendo descer a CCD pelo tubo da ocular. Verificamos que à medida que a CCD descia a imagem ficava mais focada. Quando se atingiu a profundidade máxima constatamos que a imagem ainda não estava bem focada. Para obter uma boa focagem da CCD no Mizar será necessário alterar o respectivo tubo da ocular permitindo uma ainda maior aproximação da CCD ao espelho secundário (ou recorrer a uma barlow).

Depois passamos para o Meade LX200. Neste caso optamos por não apontar para lâmpadas próximas pois o LX200 capta muito mais luz do que o Mizar e não queríamos correr o risco de danificar a CCD. Procuramos apontar então para um campo de estrelas pouco brilhantes na constelação de Orion.

Como o telescópio não estava alinhado e o seu campo de visão é muito menor do que o do Mizar tornou-se um pouco mais complicada a coordenação entre o momento em que se centra a imagem no buscador do telescópio e o início da exposição. Mesmo assim conseguiu-se ir centrando cada vez mais a imagem à medida que se assistia também a um melhoramento progressivo da focagem.

Entretanto Siriús já era visível do local onde nos encontrávamos pelo que decidimos tentar algumas exposições dessa estrela. Foi então que se conseguiu melhorar ainda mais a focagem até obter-se uma imagem de Siriús onde a cruz de difracção era já bem visível (perfeitamente focada). Em mais detalhe, o processo de focagem com esboços encontra-se em: Focagem da CCD nos telescópios.



Estrela Síriús. A imagem foi obtida a 24-11-2006 com a CCD acoplada ao telescópio Meade LX200. (c) Grupo de Astronomia da Universidade da Madeira 2006.

Para a próxima Sexta iremos colocar o Meade no terraço e, depois de devidamente alinhado, fazer exposições mais curtas e/ou utilizar outra estrela ou um filtro adequado (e.g. R ou I para o caso de Siriús que é mais azul). O plano é também testar o campo e a orientação da CCD na observação de vários outros objectos astronómicos.

Laurindo Sobrinho


> © 2006 Grupo de Astronomia da Universidade da Madeira

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